segunda-feira, 21 de maio de 2012



Ah! quem há de exprimir,alma impotente e escrava,
o que a boca não diz,o que a mão não escreve?
-Arde,sangras,pregada à tua cruz e,em breve,
Olhas desfeito em lodo,o que te deslumbrava...
O pensamento ferve,e é um turbilhão de lava.
A forma fria e espessa,é um sepulcro de neve...
E a palavra pesada abafa a ideia leve
Que, perfume e clarão,refulgia e voava
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas do sonho?
e o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda?e o asco mudo?e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?

Olavo Bilac

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